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José Carlos Maciel Oliveira
José Carlos Maciel Oliveira

ENTREVISTA COM JOSÉ CARLOS MACIEL OLIVEIRA.

HM - Zé Carlos, em qual escola arariense tu estudaste e na casa de quem tu moraste?
Zé Carlos – Estudei no Colégio Arimatea Cisne, nos anos de 1960 e 1961. Eu morei na casa do sr. Romualdo Silva, na rua da Beira. Tonico Santos me disse que nesse ano ele era diretor do Arimatea, mas eu não lembro, pois eu tinha 10 anos de idade. Quando eu já estava saindo do Arimatea, Anselmo (Pai de Edu e de Basquete) comprou aquela casa, lá do lado do colégio.
 
HM – Como era o teu deslocamento Paiol–Arari?
Zé Carlos – Havia muitas lanchas que comercializavam mercadorias pelo rio Mearim e Grajaú, e também transportavam pessoas ao longo desses rios. E eu era um dos passageiros dessas lanchas.
Eu me lembro que uma das viagens eu vim pra Arari junto com vocês, na lancha de Totó, quando vocês compram aquela usina. HM – É mesmo? ZC – É!. A lancha atracou no trapiche no porto da casa que vocês compraram. Depois, eu embarquei na lancha de Mário Prazeres, a lancha Arariense, e vim pra São Luís.
 
HM – Quem eram aqueles donos de lanchas?
Zé Carlos - Era Zé Machado, com a lancha Conceição; lancha Fé em Deus, de Manoel de Jesus; Benedito Pirulito, tinha o pessoal de Foguete. Seu Romualdo Silva tinha dois batelões. Um deles tinha o nome de Meu Tesouro; era coberto de palha e era muito grande. Depois, eles modificaram esse batelão e fizeram dele uma lancha, com o nome de Guanabara. Seu Romualdo também teve também uma lancha de nome Deusamar.
 
HM – Quais eram os filhos do seu Romualdo.
ZC – Era Zé, que já faleceu, e Cota, Aracy, Marçalina, que era mulher de Zuza, e a mulher de Domingos Batalha.
 
HM - E sobre o Paiol, foi lá que tu nasceste? 
ZC – Foi. Eu nasci em 1951 e sempre estudava muito para passar direto e ir logo pro Paiol, porque havia uma tal de provinha, mas eu nunca ficava pra fazer essa prova(passava direto). Mas às vezes a gente tinha que esperar até 5 (cinco) dias por uma lancha para ir pro Paiol. Na volta, essas lanchas traziam babaçu, farinha, cachaça etc. Eu lembro que um engenho que meu avô, Antoninho Oliveira, tinha, foi comprado de Cipriano dos Santos. Mas meu avô tinha um engenho menor, puxado a boi.
 
HM - E os moradores antigo do Paiol, quais eram?
ZC – Do lado esquerdo, era o veio Kelé(Clemente Muniz), os Cantanhedes, Zé Mendes, Caulino, Mateus Salgado, tinha Manoel Prazeres, que tinha uma padaria. HM – Padaria, no Paiol? ZC – Tinha duas padarias, uma de cada lado. Do lado de vocês, tinha Manoel Prazeres, e do nosso lado, tinha Chico Prazeres. Paiol tinha bar grande, rapaz! O bar de Amaro Bué ficava ao lado da casa de tia Chagas. Não vendia cerveja, mas vendia refresco... Teu avô tinha um bar e tinha até geladeira (a querosene)!
 
HM – E aquela enchente de 64, tu presenciaste?
ZC – Rapaz, eu não estava lá, nessa época. Eu estava estudando em Santa Inês.
 
HM – E quem criava gado no Paiol, naquela época?
ZC – Ah, muita gente!. Ali todo mundo criava gado. Os cantanhedes, todos eles tinham gado.
 
HM – Aquelas terras pertenciam a quem?
ZC – A Nicolau Cantanhede, pertenciam as terras do lado do teu avô, Clemente Muniz. Essas terras de Nicolau, não eram dele. Os donos dessas terras abandonaram essas terras e foram embora lá pro lado do Grajaú, e as terras ficaram lá, a Deus-dará e os cantanhendes ocuparam. Aí, meu avô sugeriu que ele registrasse no nome dele, usando o argumento de usucapião. Aí, meu avô pegou ele, levou em Vitória e fizeram as escrituras. E, do nosso lado, as terras pertenciam a Antoninho Oliveira, meu avô.
 
HM – Quem eram as professoras que ensinavam no Paiol?
ZC – Tinha dona Laura, que era a melhor professora de lá; ela era mulher do seu Zé Dois. De lá do Paiol, eles foram morar no Lago Açu e, depois, vieram para São Luís. HM – E a Lindani era filha de quem? ZC – Era filha de uma irmã de Coelho. Ela tinha dois irmãos: Passarinho e Louro.
 
HM – Mudando para campos de futebol, havia quantos no Paiol?
ZC – Tinha campo dos dois lados. Lá, abaixo de João Calazão, tinha aquele campo grande! E tinha um campo pequeno, perto da casa de tia Chagas, que Edmilson fez com Duca, de Clemente. E era um campinho bom, rapaz! Era todo no capim de burro... Ao redor, era todo de matapasto, aquela madeirazinha. Eu ainda joguei bola lá.
 
HM – E do lado de vocês?
ZC – Tinha um campo grande! Já saindo lá de casa, como quem ia pro Camilo. (Lá no Paiol, Duca, de Kelé era muito envolvido com futebol; era ele, Cícero e Manequinho (da velha Severa), Pedro Cantanhede, Cadico, Valdemar, Miguel e Duca, de Zé Mendes. O time do Paiol se reunia no meio do campo, fazia aquela roda, e davam um grito de guerra: Ipi Urra! Eu lembro que o nome do time deles era 29 de novembro, que era o dia da festa).
 
HM – Quais os povoados que existiam circundando o Paiol?
ZC – Ah, tinha muitos. Tinha Andirobal, que era um povoado grande, tinha Camilo, Centro dos Colins, Baixa Fria, Deus-Vale, Bananeira, Mosquito, que eram povoados grandes. HM – Hoje ainda existem esses povoados? ZC – Todos eles.
 
HM – E do lado do veio Kelé(Clemente Muniz)?
ZC – Do lado do veio Kelé só tinha o Criminoso e Laje Grande, porque, ali para trás era tudo alagado. Ali o que havia eram retiros. Teu avô tinha um retiro, meu avô tinha um retiro, lá no Campo Redondo. Aquele pessoal de Dutra, Pedro Dutra, tinha retiro. Zé Gusmão... o pessoal dos Mendes tinha retiro, lá no Tabocal.
 
HM – E Bacuri?
ZC – Não, Bacuri já era do outro lado. Ficava perto das terras do meu avô. A metade do Andirobalzinho ficava nas terras do meu avô, e o outro lado ficava nas terras do seu Carlos Assunção. HM – Carlos Assunção, do Bacuri. ZC – Exatamente, o pai do Amarildo. HM - Ah, o Amarildo que comprou a casa que nós morávamos, lá no Bacuri. ZC – Exatamente.
 
HM – E os peixes do Paiol, quais ainda existem lá?.
ZC – O mandubé, tu praticamente não vê mais. Lírio também encontra um ou outro. Tem muito peixe ainda no rio Grajaú, mas o peixe fica assustado com o barulho que já existe nas ribeiras, e quase não há mais peixe grande, como havia naquela época.
 
HM – Zé Carlos, e o matador de onças?
ZC – Donato. Donato tá vivo, aqui no Anjo da Guarda; teve um AVC, mas tá lá... Donato era vaqueiro dos Cantanhedes. Ele morava quase em frente à casa de Nicolau.
 
HM – E um tal de Xepeiro?
ZC – Xepeiro já morreu faz tempo. Ele era carreiro do meu avô. Carreiro respeitado!. Nenhum carro –de-boi ousava passar na frente do dele. Ele era o primeiro da fila! Tu podias até encher teu carro de cana primeiro do que ele... tu até ser mais rápido, mas tinha que esperar Xepeiro terminar, porque o primeiro da fila era ele; e a carrada de xepeiro era uma carrada alta, bem-feita! A cana era toda batidinha. HM – Pra levar essa cana pra onde? ZC – Pegava lá nos canaviais pra levar pro engenho do meu avô, onde a cana virava cachaça e o mel. Naquela época, meu avô industrializava cachaça, com rótulo, rolha de curtiça e selo. HM – E o que tinha escrito no rótulo? ZC – O nome dela era cachaça Sossega Leão!HM – Sossega Leão? ZC – Era. Eu cansei de ver, lá em casa, aquelas pilhas de litros deitadinhos, uns do lado e acima dos outros... Depois, ele comprou uma maquininha que lacrava as tampas nos litros, tipo essas tampas de refrigerante. HM – E vendia onde? ZC – Vendia aqui em São Luís, essa produção vinha toda pra cá.
 
HM – Zé Carlos, o Paiol é hoje um lugarejo falido, acabado?
ZC – O nosso lado (dos Cantanhedes, margem direita) já é Lago-açu; o lado dos Mateus (margem esquerda) ainda é Vitória do Mearim; e, do Criminoso pra cima, já é Igarapé do Meio. HM – E Bacuri já é Pio XII-MA. ZC – E Itã, Andirobal, Centro dos Colins, Juçara, tudo é Lago-açu. Mas se Acoque passar a Município, Paiol vai ser povoado de Coque. O município de Vitória do Mearim era o maior ou o segundo maior município do Maranhão, pois ele fazia divisa com o município de Grajaú, lá em cima. Lago da Pedra, Paulo Ramos, Vitorino Freire, Olho D’Água das Cunhãs, Pio XII, Bela Vista, São Benedito, Igarapé do Meio tudo isso aí era município de Vitória do Mearim.
 
HM – Do Paiol para Arari, quais os povoados que existem?
ZC – Do lado esquerdo do rio, tudo é município de Vitória; do lado direito, tudo já é Lago-açu. Saindo do Paiol, de lancha, pelo lado direito, a gente passa por São Gregório, Itã, Regor, Boca do Rio e Boca do Igarapé; Do lado esquerdo, tem Paiol, Santarém, São Benedito, e, quando entra no Ingaitil tem um povoado chamado Santa Bárbara, para chegar na Boca do Rio. Mas tem muitos outros povoados na beira do rio Mearim, antes de chegar em Vitória. Um deles é Mamona, que até uma lancha explodiu na beira do rio (depois tem Ubatuba, Arraial, Santa Inês etc).
 
HM – E sobre a história do teu pai com o padre Clodomir. Teu pai foi um dos primeiros internos dele.
ZC – Foi um dos primeiros. 
 
HM – E como foi a briga do teu pai com o padre?
ZC – Essa briga foi porque o padre mandou os internos carregarem uns bancos, muito pesados, da igreja para uma sala de Catecismo. Papai, por ser o mais forte dos internos, disse que tinha condição de levar um banco sozinho, e os outros estavam levando um banco carregado por dois deles. E papai botou o banco nas costas e, quando chegou na sala, arreou o banco, que bateu no chão. E a mãe do padre tava lá, viu, e foi fuxicar pro padre, que papai tinha jogado o banco, com ignorância, no chão. O padre veio de lá já pra bater em papai, e papai enfrentou o padre e disse que se ele batesse, ele iria apanhar também. E papai ainda chamou a velha de fuxiqueira...
 
HM – E quando teu pai foi ser interno?
ZC – Rapaz, papai foi pra antes de 1947. Ele nasceu em 1927, e como ele tinha engravidado a primeira mulher dele, meui avô mandou dizer pra ele voltar pro Paiol, pra casar com Maria de Jesus. E ele casou, mas ele morreu de parto, e foi enterrada no Paiol. Ainda está de pé a sepultura dela.
 
HM – Pergunto por fotos antigas, e Zé Carlos traz vários álbuns, entre eles, o do casamento dele. A foto abaixo chamou minha atenção. E esta foto aqui, Zé Carlos?
ZC – Essa foto é do time do Camilo, que foi jogar lá no Mosquito, que fica bem do lado do Bacuri, lá onde teu pai morou; lembro até de um velho, que teve essa Hanseníase, que ele não tinha as cabeças dos dedos do pé. HM - E esses jogadores, quem são. ZC - Não lembro de todos, mas lembro de alguns nomes, constantes da foto abaixo:
Ilustre Zé Carlos, a memória arariense (e vitoriense!) agradece tua valiosa contribuição, pelas preciosas informações que nos deste. Hilton Mendonça.